22.8.21

Gatilhos everywhere

Um post com os resultados de eu andar pensando demais na vida.

Trinta é a idade do sucesso


Vou fazer trinta anos em dezembro, mas e o sucesso? Aos trinta os meus pais já eram casados, tinham uma casa própria e eram pais de uma bebê (eu). Ver fotos de conhecidas minhas que já são casadas, tem casa própria (ou estão a caminho de ter uma) e são mães me deprime. Casar e ter filhos não me interessa, mas para mim estas duas coisas meio que simbolizam certo avanço na vida, o que me faz sentir estagnada. Não sei dirigir, não tenho diploma universitário, não sou feliz no meu emprego, não moro sozinha, não quero casar, não quero ter filhos e o pior de tudo: não consigo nem imaginar como seria uma Vanessa realizada.

Não existe trabalho ruim, o ruim é ter que trabalhar

Sou extremamente grata por ter o meu emprego, e ele até que tem as suas vantagens, mas me deixar feliz com certeza não é uma delas. Numa das minhas sessões de terapia eu disse para a minha psicóloga que eu não poderia largar o meu emprego, e ela olhou para mim com aquela cara de quem sabe das coisas e me perguntou: não poderia mesmo? Se na época eu tivesse assisto ao clipe da música Partilhar, do Rubel, eu teria mostrado para ela a parte em que aparece este diálogo:

- Eu sinto falta daquela sensação de que tudo ainda era possível. A gente não sabia direito quem era nem quem iria ser. Se eu quisesse ser encanador, eu podia ser um encanador.
- Você ainda pode ser um encanador, se quiser.
- Posso não. Eu acho que a cada anos que passa a vida vai afunilando um pouco mais. Hoje em dia eu sou um cara casado com carteira assinada. Eu posso largar tudo e fazer qualquer coisa? Posso. Mas não posso.


E a questão de ser concursado é que ninguém larga um concurso a menos que seja para assumir outro concurso, e não sei se quero continuar fazendo serviço burocrático só que num endereço diferente. Não tenho formação nenhuma, então vou fazer o que se largar o emprego agora no meio desta crise? Provavelmente chorar em posição fetal.

A culpa é minha mesmo

Li um post da Mari em que ela falava sobre as coisas que faziam mal para ela, mas que ela continuava fazendo mesmo assim, e fiquei pensando. Todo mundo tem disso, né? Uma das coisas que faço é stalkear conhecidos da minha idade e ficar comparando as nossas vidas, o que sempre acaba comigo. Como fast food só de vez em quando, mas sempre que como me sinto mal e insatisfeita depois. Fazer compras pela manhã na pressa antes de ir trabalhar sempre termina comigo arrependida, mas continuo fazendo. Tenho certeza que consigo pensar em mais coisas se tiver tempo.

Can't wait to be dead

"Quando se envelhece, o melhor é despir-se das posses, despojar-se como uma árvore, ser quase apenas terra antes de morrer."
- Sylvia Townsend Warner (Lolly Willowes)


Não quero assustar ninguém, mas penso muito na minha morte. Vocês sabiam que na Suécia existe uma prática de limpeza da morte? Nela você vai se desfazendo dos seus bens materiais aos poucos antes de morrer, para facilitar o trabalho de quem fica. Sempre pensei muito nas coisas que vou deixar para trás quando morrer, e saber que na Suécia eles também pensam me fez sentir menos mórbida kkkk

Se não agora, quando?

A cena de HP 6 que mostra a mesa do Dumbledore depois que ele morreu, com cartas não lidas, um livro inacabado, uma caneca de chá tomada pela metade e docinhos ainda esperando para serem comidos me vem muito à cabeça quando penso na morte

Tenho o costume de adiar a leitura de livros que parecem interessantes para os dias bons. Faz sentido? Aí nos dias ruins leio aqueles que não parecem tão promissores. Enfim. Só sei que comecei a pensar: e se os dias bons não chegarem? E se ler um dos meus livros interessantes num dia ruim transformasse ele num dia bom? Quantas outras coisas tenho adiado para um dia incerto? Talvez todos estes meus questionamentos sejam apenas um adendo ao tópico anterior.

11 comentários:

  1. Sei bem como é isso, casar e ter filhos não era uma preocupação até as pessoas ao meu redor começarem a ter, e você percebe que os dias não vão ser mais como sempre foram, vocês não vão sair como antes pois agora eles tem uma família e casa para cuidar e você sente a urgência de ter também, mas não porque você quer, mas porque você sente que marido e filhos vão ser a única presença constante na sua vida a partir de agora.
    E essa constante urgência de avançar na vida parece atacar a ansiedade, eu preciso me casar, eu quero um emprego, quero uma casa, mas no fundo no fundo eu tenho é vontade de deitar, morrer e deixar toda essa loucura para tras

    ResponderExcluir
  2. Meu deus, eu mudei de nome e escrevi esse post anos atrás???? :O Hahaha, menina, mas esse texto é muito eu!!

    Desculpa, queria dizer que melhora com o passar dos anos, mas não melhora, não. *chorrindo* (Brasil 2021, this is the bad place, etc.)

    Eu consegui um diploma de graduação (que fica guardado na gaveta), tirei CNH (mas nunca usei), não tenho casa e continuo não querendo casar nem ter filhos (isso pelo menos é bom). Tou na mesma do emprego, sem perspectiva de um concurso melhor, pois Brasil 2021, né?

    *abracinho* (mantendo o distanciamento social)

    ResponderExcluir
  3. Van, sempre que leio você falando assim sobre a sua vida e sobre você mesma, penso: A Van é uma pessoa tão única nesse mundo. Você é tão singular, tão especial. Não faz sentido se comparar com as pessoas e ficar triste, a não ser que você queira estar onde elas estão e se você não quer casar e ter filhos deveria se sentir bem com a sua escolha e não deixar que os padrões te pressione a querer algo diferente ou a se sentir inferior. Acho que todo ser humano faz coisas mesmo sabendo que isso vai causar algum tipo de dano, será que somos todos meio masoquistas? Leia livros bons nos dias ruins!!! Eu tava organizando minha caixa de entrada e encontrei uma troca nossa de e-mails (sei nem o que pensar sobre mim), se você ainda quiser uma ilustra para colocar aqui let me know ♥ Beijinho e boa semana.

    ResponderExcluir
  4. um puta dilema! assim como você, eu também sou concursado e também já tive altos e baixos na carreira. aquela vontade de jogar tudo pro alto? tivemos! mas com o tempo, eu fui me encaixando e achei meu lugar e me consolidei. se disser pra você que eu não tenho vontade de largar tudo e tentar uma nova coisa eu estarei mentindo, por que sim, eu tenho. acho que permeamos os meus espectros, por que eu também não tenho vontade alguma de casar e ter filhos. nunca tive na verdade. no mais, acho que a auto comparação com o a vivencia do outro só te jogará mais e mais pra baixo. digo isso por que já estive neste local e sei como isso me deixava mal. e a terapia neste caso, tem sido fundamental, por que aprendi a me olhar com mais carinho e a vibrar nas minhas conquistas. tenta fazer isso também. por que às vezes o espelho que você está olhado pode nem sempre refletir a verdade verdadeira. :-)

    ResponderExcluir
  5. queria dizer que achei muito interessante o lance da Suécia e a mesa pós-mortem do Dumbledore. me deu muito o que pensar aqui!! espero que você encontre respostas, mas ai, ai. difícil. me contemplo com seus questionamentos, nem vou acrescentar. cada um sabe do seu cada qual.

    beijo, van, fica bem!

    ResponderExcluir
  6. Eu me identifiquei muito com o seu texto Van. Também me sinto assim. Eu posso, mas não posso largar o meu emprego. Eu acho que só vou poder quando eu tiver outro trabalho esperando por mim. Mas pra isso acontecer eu tenho que descobrir o que eu quero fazer antes, porque também não quero trocar só de endereço e continuar fazendo a mesma coisa.

    E acho que o pior de tudo é me sentir culpada por estar infeliz porque, na situação atual, ter um emprego é luxo. E me ver reclamando com a minha terapeuta me faz me sentir meio estúpida por ser infeliz só por isso. Problema de brancos que dizem né.

    Espero que você consiga se encontrar e finalmente ver a Vanessa do futuro realizada. Pelo menos assim, tendo um norte já é alguma coisa pra ser animar e voltar a ter fé de novo. Se cuide ♥

    ResponderExcluir
  7. Oie! Achei tudo que tu escreveu extremamente válido. Constantemente me pego me comparando com pessoas da minha idade que também têm filhos, assim como eu, mas que parecem estar navegando nesse mundo muito melhor que eu. É natural, mas é péssimo, né? E também acredito que seja um vício, porque como tu disse, a gente continua fazendo coisas que nos fazem mal mesmo tendo consciência disso. Me identifiquei bastante com o que li aqui, sabe? Inclusive com a parte mórbida hahaah porque eu penso muito na minha morte e no que vou deixar pra trás. Geralmente são nesses momentos que me dá uma ansia de viver. Dura pouco, porém hahaha
    Ah! Sobre a idade do sucesso, eu também caí nessa cilada de achar que com 30 ia ser maravilhoso e a verdade é que continuou a mesma coisa e provavelmente nossos pais também se sentiam assim mesmo já tendo "o pacote completo". Pensar nisso às vezes me acalma.
    Beijos!!

    ResponderExcluir
  8. É um misto de surpresa e conforto perceber a idade das blogueiras serem próximas à minha e os medos, ansiedades e projeções muito parecidas.

    Eu ainda estou no mesmo trabalho, com mais experiência, mais reconhecimento, mas ainda penso se é o que vou fazer para sempre. ESSE é o meu gatilho. E eu ainda hoje fico me comparando com colegas da faculdade que são mais isso; colegas do colégio que são pica-das-galáxias; colegas de cursinho que são mais aquilo. Mas eu estou onde estou não por falta de esforço ou de oportunidade. A minha vida simplesmente é diferente, a minha personalidade é diferente, tudo o meu desenvolvimento é diferente.

    Aos 30 eu chorava escondida porque também morava com os pais, não tinha sucesso e estava numa conjuntura de "independência ou morte". Agora, aos quarenta e ci-- brincadeira! :P

    Fica bem, Vanessa. Tamu junto. ♥

    ResponderExcluir
  9. Oi Vanessa,
    Acho que esse sentimento de que casar, ter filhos e blá blá blá é uma receita de vida pronta vendida pela sociedade. Não deveria ser parâmetro pra ninguém. Acredito que seu consolo vem do fato de que todos estamos nesse mesmo barco de vida insatisfatória, absolutamente ninguém está 100% satisfeito.
    Talvez você possa começar a criar hábitos mais benéficos, como se distanciar das coisas que te fazem mal e ler livros promissores mesmo em dias ruins, por que o que faz da vida algo bom mesmo em meio a insatisfações é comemorar as pequenas coisas e conquistas, é aproveitar os momentos de prazer.
    Espero que fique bem e que esse sentimento de estagnação e inferioridade deixe de lhe atormentar. E pensar na morte de certa forma é benéfico, por que nos ajuda a ter um conceito equilibrado sobre ela.
    Beijo, Blog Apenas Leite e Pimenta ♥

    ResponderExcluir
  10. Seu texto nunca me fez tanto sentido, sabe?
    Tenho 25 e pareço mais perto dos 44 do que dos 18 que fiz há alguns anos atrás. É como se o mundo estivesse avançando, ninguém parou para respirar ou disse "olha ser adulto é assim assim assado", a gente simplesmente acorda um dia e descobre que se tornou. De repente a gente tem que saber quem é. Pra onde vai, onde estamos e como que paga IPTU.

    Acho que ler o que é bom num dia ruim pode mudar o destino das próximas horas ou a perspectiva do dia inteiro.

    Se me permite, quero te recomendar o poema Se Eu Fosse Eu, Clarice Lispector (tem mais clichê para uma escritora ser apaixonada por Clarice? Mas é clichê por algum motivo, não? Ela é incrível). E se me permite ainda mais, essa declamação desse poema é lindíssima: https://www.youtube.com/watch?v=ht9VcJcI20Q
    Acho que pode te dar alguma epifania inesperada. Eu sei que me deu, essa semana ainda, quando despretensiosa me deparei com ele.

    Com amor, Beca; ♡
    Café de Beira de Estrada

    ResponderExcluir